23 de jan. de 2013

A imagem de um homem esticado no chão, com os braços ao longo do corpo, as pernas esticadas - estando uma cruzada pela outra -, de bruços, completada com uma poça de sangue precisamente ao lado de seu pescoço é, no mínimo, incômoda. A cara de espanto de quem, subitamente, teve tal imagem passada por seus olhos é esperada. Mas não desta vez. Não houve espanto, ou mesmo incômodo. A poça vermelha, vinho, quase bordô, estava vivamente posicionada e sua forma levantando a dúvida da possibilidade de alguém realmente sangrar com tanta perfeição. Sangrou com perfeição. O corpo estava lindamente pousado, o sangue derramado estava simplesmente perfeito. Por instante, pensaria que o homem só descansava e o sangue era só uma mancha bem feita por quem já pintou por ali. Ele, cansando, e a mancha, tão bonita, parecia aconchegante para os ossos relaxarem. Ninguém morre com tanta precisão. Alguém ainda vai dizer que ao verem o rapaz espatifado, não acharam digno deixar as tripas estouradas aparecendo. Era melhor que ajeitassem-no e limpassem o borrão, mantendo somente a quantidade exata de vermelho, vinho, quase bordô, para uma morte organizada. Ele não morreu bonito, ele foi arrumado, insistiriam. Se houvesse um olho presenciado o acidente - se foi acidente -, poderia dizer que ele morreu como se morre aquele que faz arte com o próprio cadáver, que faz poesia com a falta de alma, que tem porte para ser morto enquadrado. Por enquanto, ele só sangrou com perfeição.