1 de dez. de 2011

Vitória silenciosa

No quarto ao lado ele se encontra, enquanto a gente brinca de valorizar orgulhos em cômodos diferentes.
É o meu silêncio versos o dele, e ninguém segura o riso com tanta preciosidade como eu - a não ser ele, que não escuto, mas acho que dorme.
Aproveito para falar sozinha, enquanto ventilador é o único a se manifestar em casa (está um calor danado).
Mas o próprio silêncio me contagia, meu riso calado se intensifica...
Opa, fui chamada!


Ganhei. Hihi...

17 de set. de 2011

Três linhas sérias

Se-ri-e-da-de.
A própria palavra é séria, não há saída - ela se determina. 
Seriedade já é demasia. 

8 de set. de 2011

Eu perdi o poema.
Era verde fresco (início de tarde em mato), quando me dei conta de que perdi o poema que melhor me retratava - ou, pelo menos, eu acreditei retratar. Não sei se a condição foi propícia para meu estalo mental, afinal, a frescura do ar nada tem interferido na minha mente, senão a esvaziado. Porém, o fato foi de que a percepção da falta do meu poema serviu de impulso para eu rever o que eu mesma considerei bonito e fundamental para mim.
Em meio de autocríticas tão rígidas, reconheci no poema uma coisa tão íntima e sincera, e nem hesitei ao declarar gostar do que expressei e como o fiz - atitude arriscada e rara.
Agora me parece fácil e falso eu dizer que o poema era bonito, uma vez que ele não mais existe. Será que eu acredito agora que ele era mesmo bom? Agora, faz diferença ele ter me descrito em tamanha perfeição? Agora, sem mais poema, logo o meu poema...
O verde já foi engolido pelo preto abafado (noite sem lua - ao meu alcance), e o poema já está além do distante. A bafo negro de nada interfere no meu sentimento, senão no sentido, quente.
Eu perdi o poema.

E eu?

12 de jun. de 2011

Encontrado sempre no mesmo ponto, respondendo a acenos, a discretos e frios cumprimentos de quem ainda tem pena: "oi", "e aí, Gentinho", "hm...". Gentinho, pequeno em nome, maldito em vida, é gente pequena mesmo e ainda menino, abandonado por todos, lembrado quando está como obstáculo, bem no meio do caminho - mas longe de ser pedra Drummondiana, que não merece (não suporta) ter tanta (falsa) relevância.
Gentinho não sonha com quando crescer, que não tem perspectiva nem inspiração, mas não deixa de estar atento à vida, ou a sua morte próxima. Observa os homens, fugazes, que passam em passadas largas e ininterrompíveis por sua cabeça, não permitindo que reconheça cada rumo, sendo só via de quem está meramente de passagem. No que vê, em nada se percebe, estar ou não estar, ser ou não ser, sem questão alguma, é obsoleto. Os questionamentos não lhe servem, talvez nem os saiba fazer.
Existência é querer demais para o pequeno fodido menino, que não sonha, não come, não vive em vida. E como ambição não lhe cabe - tão gentinha -, retira-se como atravanco deixando o caminho livre da culpa pecaminosa de quem fazia que não via o indigno no canto, sem nada, sozinho.

10 de jun. de 2011

Tá quente no peito, tem ritmo no corpo. 
Seja maracatu, seja arritmia...
É turum tum tum que africano algum é capaz de reproduzir.
Não cale, coração. 

4 de jun. de 2011

Vou envolvê-lo em meus braços, aproximá-lo de meu colo quente, dispondo de uma canção de ninar para apaziguar todo e qualquer incômodo. Dê-me seus dissabores, que o azedo quer suavizar.
Assuma-se criança outra vez, para lamentar a dor sem resistência, livrando-se quase que instantaneamente dos monstros debaixo da sua cama com apenas o meu abraço e cheiro.
Queira-me para consolo, quero ser o seu conforto.

28 de mai. de 2011

16 de mai. de 2011

Boa noite

A noite de sexta-feira parecia não querer chegar: o trânsito atrapalhava o tempo, a sede embrulhava o estômago. Música! Música faria o tempo passar despercebido, tudo correria em ritmo. Som ligado, luz acesa, automatizando movimentos de distração - passa, tempo. Quando já embalada por canções, estava pronta; sua dança suavizou, seu passos receberam outros passos, que juntos se encaminharam para a vida de sexta.
O caminho que seguiram  - para a embriaguez (em qualquer sentido) - foi certo e devagar, o tempo aconteceu direito. Gradativamente cada letra pronunciada subia um tom, o riso começava a gritar, a seriedade a cair (fingiram cair), até que tudo parecia levitar.
A sexta não quis acabar, levando sábado adiante. De passo a toque, de toque a passo, tornaram-se despedida nada querida. Domingo ficou desejoso de sexta, garantindo último passo de boa noite para um sono tranquilo.

Boa noite, sonhe com...
Isso.

25 de abr. de 2011

"eu que aprenda a levitar"

Cai o mundo lá fora! E como eu queria estar envolvida nisso tudo: na chuva, no vento, na lua minguando, até nas trovoadas...
Cai tudo! As árvores inquietas aceleram as minhas próprias batidas cardíacas, uma pulsão avassaladora e revigorante: estou viva, e isso vem como certeza inédita.
Num impulso destemido, estou debaixo d'água sentindo gota a gota delicada tocando cada extremo no meu corpo, agora frio.
Refrescada, limpa, lavada...

Eu estou aqui inteira, levitando, enquanto o meu mundo cai.









* o título é uma citação à música "se meu mundo cair" de José Miguel Wisnik, fazendo com que o texto, automaticamente, dialogue com a bela canção.

21 de abr. de 2011

de mansidão à sua volta

Uma imensidão de mansidão me fez calar por instantes, por longo intervalo - diria. Agora chega. Não tem mais mansidão, pelo menos não em tal dimensão: calmaria, que nada, tormento mesmo. Tormento do brabo, que você tenta afastar, acredita em conseguir; mas em relutância maior, todo o desfeito está refeito.
Por ora, é tumulto tranquilo, que só serve para lembrá-lo de que o coração existe e ele ainda quer bater.
E você deixa? Você deixa, por ora. Afinal, em ser efêmero (em tudo), ele é mestre.

Falta sonolento acalanto, tem a brandura do não haver mais nada, voltando, pois, à mansidão silenciadora.
Enfim, mais uma vez, eu me calo.

3 de abr. de 2011

A alma pede descanso.
Por tantos outros instantes também declarei o coração pedir sossego...
A tranquilidade é pertinente, é bem-vinda!
Seja na alma, no dorso do corpo
- afinal, carregar o mundo nas costas é bobeira.
A alma pede descanso
e nem ousa se submeter a qualquer tumulto
É calmaria de dia chuvoso de domingo (apropriado),
são versos irregulares e despreocupados
é o ritmo das ondas e o barulho nas conchas
é a brisa incerta, vento leve de limpar a alma.
Afinal, ela cansa.

24 de mar. de 2011

Num guardanapo a mensagem se manteve resguardada de si mesma, o emissor se fez difuso, confuso, sem fuso... Distúrbio do tempo que, por ora, não amarelou o papel - mas há de amarelar.
Acho que posso passar a gostar de amarelo, não?


23 de mar. de 2011