10 de fev. de 2014

Devaneios finitos

A urgência de viver acabou.
A urgência é certeza de oxigênio correndo, preenchendo cada capilar.
O arrepio do imediatismo que não se sustenta é tormenta n'alma.
Querer, correr...
Acabou a urgência de ser.
O ser é a incerteza de vazios vazando, esvaziando cada poro.
A agonia do reconhecimento que não se apresenta é tremenda, sem calma.
Acabou o acabado.
E só nos resta...
O quê?

12 de set. de 2013

Começou ouvindo uma música lenta e profunda. Decidiu, pois, estar imersa lentamente nessa profundeza, com o ar de tristeza que cabia. Afinal, a música deu o tom. O problema é que as que seguiam variavam: ora mais animada, ora mais dura, ora intensa demais e, tantas outras vezes, mansa de levitar. Não sabia mais como se sentia. Ainda que fosse tentador oscilar entre bastantes sensações e emoções, era de se exaurir. Não queria admitir. É terrível não cumprir com o que se escuta. Se a música não contava, só se sentia nada. 

8 de mai. de 2013

Decadência interrompida


A atriz em decadência é uma ideia adiantada – equivocada, se preferir. Afinal, a decadência advém de uma altura de que se pode cair. Mas quem disse que não se cai do chão? Com a atriz em questão, a decadência é só dela, a altura nunca houve, chão, também não.
Vamos decidir que o nome dela é Beatriz, porque a música é bonita. Uma atriz tem que ser bonita. E dramática. Histérica, de preferência. Beatriz, em estereótipo, cumpre muito bem o esperado.
(nota: be (verbo to be, ser, estar) + atriz => vai saber)
Beatriz não é ruiva. Por algum motivo eu esperava que ela fosse, mas não é. Nem loira, que não suporto loiras – não sei bem o motivo. Inveja? Dificilmente. Acho que por ser a não minha cor. Também não gosto de amarelo. Gosto de vermelho, porém, ela não é ruiva. Isto basta. Sua pela não é branca nem é preta. É a pele dela, sua cor. A estatura não importa, que aparecerá mais sentada ou em quadros de corpo em partes, (raramente ou) nunca inteiro. Sua roupa, um roupão – não de toalha, tem que ser glamouroso de cetim (ela não está saindo da natação).  Está descalça. Seus pés constantemente gelados, assim como suas mãos. E o coração, inquieto. Uma arritmia, não diagnosticada, fazendo questão de que o coração seja notado, a pulsação inconstante e o cano inoxidável reparados.
Só interessa o que acontece internamente em seu corpo: os calores e calafrios, o suor, o formigamento.
Beatriz encontra-se de frente para um espelho iluminado (por aquelas diversas lâmpadas servindo de moldura). Olha-se com pena de si mesma e se detesta por isso. É claro, sempre ensinaram que ter pena é um sentimento merecedor de pena – ainda mais quando é de si mesmo. Não tem como ser pior. Nem melhor.
Ela ensaia um choro, mas se mantém imóvel, embora algumas súbitas lágrimas se apresentem. É coberta de um orgulho secreto ao ver seu rosto umedecido porque queria – ou sofria sem admitir. Um sorriso lhe escapa, mas logo o esconde, afinal, isso realmente não pode. Não importa o orgulho, o choro é sério.
Num movimento suave, seu braço se desloca levando sua mão, como uma bailarina, ao rosto longe de estar encharcado. Secou as bochechas agressivamente. Parecia combinar melhor com a cena, e a quebra da suavidade sempre causa um bom efeito.  Não chora mais. Entretanto, ainda está de frente pro espelho emoldurado de luzes. Está parada. Continua se encarando. Levanta-se sem desviar o olhar ou mexer os braços, só as pernas a sustentam.
É impressionante o esforço necessário para se manter em pé. Por mais que queira que seja simples, poderia-se dizer que se sustenta como uma elefanta prenha em cima de um mini palco de cristal. O motivo de estar prenha é quase irrelevante, uma vez que elefantes sempre serão pesados, independente de carregamentos a mais. Mas a comparação é válida.
Agora, Beatriz, nossa pobre atriz, levanta os calcanhares, mantendo os dedos do pé quase firmes no chão frio – quente, só se fosse asfalto exposto ao sol pelo dia inteiro. Os poucos centímetros a mais servem para seus quadris aparecerem no espelho emoldurado de luzes.
Estranho como as luzes do espelho pareciam tão constantes, mas agora piscam sem ritmo, típico de uma enxaqueca sob luz incandescente.  A moldura está falha. Até que se apaga. Não há luz. É Só escuridão. A atriz mal ficou de pé, percebeu-se quase inteira e se apagou. Acabou.

24 de abr. de 2013

Modinha incompleta

Eu preciso de um poeminha
para contar meu coração
coisa simples, pequenina
feito um samba-canção


23 de jan. de 2013

A imagem de um homem esticado no chão, com os braços ao longo do corpo, as pernas esticadas - estando uma cruzada pela outra -, de bruços, completada com uma poça de sangue precisamente ao lado de seu pescoço é, no mínimo, incômoda. A cara de espanto de quem, subitamente, teve tal imagem passada por seus olhos é esperada. Mas não desta vez. Não houve espanto, ou mesmo incômodo. A poça vermelha, vinho, quase bordô, estava vivamente posicionada e sua forma levantando a dúvida da possibilidade de alguém realmente sangrar com tanta perfeição. Sangrou com perfeição. O corpo estava lindamente pousado, o sangue derramado estava simplesmente perfeito. Por instante, pensaria que o homem só descansava e o sangue era só uma mancha bem feita por quem já pintou por ali. Ele, cansando, e a mancha, tão bonita, parecia aconchegante para os ossos relaxarem. Ninguém morre com tanta precisão. Alguém ainda vai dizer que ao verem o rapaz espatifado, não acharam digno deixar as tripas estouradas aparecendo. Era melhor que ajeitassem-no e limpassem o borrão, mantendo somente a quantidade exata de vermelho, vinho, quase bordô, para uma morte organizada. Ele não morreu bonito, ele foi arrumado, insistiriam. Se houvesse um olho presenciado o acidente - se foi acidente -, poderia dizer que ele morreu como se morre aquele que faz arte com o próprio cadáver, que faz poesia com a falta de alma, que tem porte para ser morto enquadrado. Por enquanto, ele só sangrou com perfeição. 

16 de set. de 2012

Falo sendo, calo...

Por muito tempo me calo
e sempre digo o motivo:
estou sentindo.
É mentira!
Me calo às vezes apática,
Me calo às vezes sorrindo...
Eu me calo não por ter nada a dizer,
eu me calo por não querer ser.

5 de mai. de 2012

De novo, (quase) tudo novo

É necessário que se arrume a casa algumas vezes por semana, não se pode deixar acumular quilos de desordem, ou tudo corre risco de desabar. No entanto, eu faço diferente: quero o limite do precipício. Vivo em meio de papéis e almofadas espalhadas, umas roupas na cadeira, umas revistas quase arrumadas embaixo de uma mesinha de canto ou centro, dependendo de como eu colocá-la. Por mais incrível que possa parecer- difícil mesmo de acreditar - eu ainda consigo encontrar tudo de que preciso para sobreviver por tempos sem ter que mexer num  travesseiro mal afofado. Mas chega a hora de realocar tudo outra vez, porque para se viver à beira é preciso menos um passo para frente vez ou outra. Hoje é dia de arrumar, de mudar, de recolorir. Uma vassoura para varrer o que acumulou de alérgica poeira, um copo d`água que preenche qualquer vazio desnecessário, algumas novas etiquetas para os outros tantos papéis que se juntaram e muito lixo para fora. Pronto: o início de um recomeço desses não traçados, afinal, marcar trilha tão bem definida não me parece saudável.

1 de dez. de 2011

Vitória silenciosa

No quarto ao lado ele se encontra, enquanto a gente brinca de valorizar orgulhos em cômodos diferentes.
É o meu silêncio versos o dele, e ninguém segura o riso com tanta preciosidade como eu - a não ser ele, que não escuto, mas acho que dorme.
Aproveito para falar sozinha, enquanto ventilador é o único a se manifestar em casa (está um calor danado).
Mas o próprio silêncio me contagia, meu riso calado se intensifica...
Opa, fui chamada!


Ganhei. Hihi...

17 de set. de 2011

Três linhas sérias

Se-ri-e-da-de.
A própria palavra é séria, não há saída - ela se determina. 
Seriedade já é demasia. 

8 de set. de 2011

Eu perdi o poema.
Era verde fresco (início de tarde em mato), quando me dei conta de que perdi o poema que melhor me retratava - ou, pelo menos, eu acreditei retratar. Não sei se a condição foi propícia para meu estalo mental, afinal, a frescura do ar nada tem interferido na minha mente, senão a esvaziado. Porém, o fato foi de que a percepção da falta do meu poema serviu de impulso para eu rever o que eu mesma considerei bonito e fundamental para mim.
Em meio de autocríticas tão rígidas, reconheci no poema uma coisa tão íntima e sincera, e nem hesitei ao declarar gostar do que expressei e como o fiz - atitude arriscada e rara.
Agora me parece fácil e falso eu dizer que o poema era bonito, uma vez que ele não mais existe. Será que eu acredito agora que ele era mesmo bom? Agora, faz diferença ele ter me descrito em tamanha perfeição? Agora, sem mais poema, logo o meu poema...
O verde já foi engolido pelo preto abafado (noite sem lua - ao meu alcance), e o poema já está além do distante. A bafo negro de nada interfere no meu sentimento, senão no sentido, quente.
Eu perdi o poema.

E eu?